Amiraldo Picanço é o atual presidente da Cooperativa Amazonbai, empreendimento comunitário dos produtores agroextrativistas da região de ilhas no afluente do rio Amazonas, distante cerca de 12 horas de Macapá, capital do Amapá, e de seu vizinho, território conhecido como Beira Amazonas, também no Amapá. Engenheiro Florestal pela Universidade do Estado do Amapá (UEAP), mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Amiraldo já atuou como consultor técnico especializado em certificação de manejo florestal. Possui experiência com certificação pelo padrão SLIMF para pequenos produtores na certificação FSC – Forest Stewardship Council (Conselho de Manejo Florestal, da sigla em inglês) e na área de manejo sustentável de produtos florestais não madeireiros na Amazônia.

A Amazonbai é um exemplo de manejo florestal bem-sucedido no coração da Amazônia. O empreendimento tem atuado para garantir a comercialização de um açaí com alto valor agregado e que fomente o desenvolvimento social e ambiental. De acordo com Amiraldo Picanço, há 10 anos, o açaí da região era considerado o pior açaí do Estado do Amapá. Entre as causas da má-fama estava a logística. “O Bailique é distante da cidade e o açaí é um produto altamente perecível, então sem estrutura não era possível garantir uma boa qualidade”, explica. Amiraldo conta que, entre os primeiros anos de organização da produção, foi preciso promover as boas práticas de manejo, assim como preparar o correto armazenamento e conservação do açaí. “Hoje, o produtor entrega o açaí para a Amazonbai que armazena na câmara fria do barco da entidade, que conserva no gelo até chegar à cidade, onde será beneficiado na agroindústria”, comenta.

As mudanças estruturais na cadeia produtiva da Amazonbai são reflexos da organização comunitária e do compromisso com a conservação do território. “Somos considerados um dos melhores açaí da Amazônia porque, além de todo esse trabalho de qualidade que a gente tenta garantir, também temos o trabalho das comunidades que inicia lá nos açaizais. É um produto de área que não tem desmatamento, que tem conservação da floresta em pé e tem um diferencial que garante tudo isso que são as certificações”, argumenta Amiraldo.

A história da AmazonBai ajudou a disseminar os benefícios da certificação, o número de unidades de manejo certificadas dentro do grupo pulou de 88 para 132, abrangendo também produtores da região do Beira Amazonas.

O Boletim Diálogos Pró-Açaí teve um bate-papo jogo rápido com Amiraldo que contou os desafios de estruturar um empreendimento comunitário que agregue valor ao produto a partir de boas práticas de manejo e sustentabilidade ambiental. Confira!

 

Perguntas:

DPA: Em sua opinião, qual é a receita do sucesso da Amazonbai no que diz respeito à estruturação da cadeia produtiva do açaí e de seus produtores?

O sucesso da Amazonbai se deve ao trabalho de base que  é desenvolvido com os produtores. É um trabalho de conscientização ambiental. Trabalhamos com eles as boas práticas na cadeia produtiva completa. O primeiro cuidado é o manejo do açaizal nativo na floresta. Depois a gente faz todo um trabalho de boas práticas de coleta do açaí, transporte, armazenamento, até chegar na agroindústria para ser beneficiado e chegar ao consumidor final. Realizamos capacitações para envolver os cooperados e assim eles passam a qualificar sua produção.

DPA: Os produtos da Amazonbai são direcionados a qual mercado, nacional, exportação? Qual o perfil de quem compra os produtos da cooperativa? Existe um direcionamento estratégico para entrada no mercado sustentável, ou seja, usar a trajetória socioambiental da cooperativa como ferramenta de valoração e competitividade?

O nosso produto é direcionado para os três mercados: local, nacional e internacional. o perfil dos consumidores que compram nosso produto são aquelas pessoas que estão preocupadas em saber a origem dos produtos que adquire e que valoriza os modos de vida tradicionais. Nosso produto vem de uma área que faz todo um trabalho de conservação ambiental que respeita a floresta em pé, respeita a cultura das comunidades.

DPA: Quais os principais desafios de realizar a gestão de uma cooperativa com um número grande de cooperados e com a missão de permanecer com as certificações que já possuem?

O maior desafio na gestão é manter o nível de organização dos produtores. Temos um número grande de cooperados e atuar para que eles estejam seguindo os padrões, como para certificação, por exemplo, é um desafio. Mas usamos estratégias para que eles permaneçam organizados, como a aproximação da gestão com o produtor. Nós levamos informações para eles sobre a produção e os resultados do trabalho da cooperativa.

DPA: Qual o papel das parcerias institucionais na estruturação da cooperativa?

É fundamental. Somos uma cooperativa recente e nesse processo de estruturação precisamos muito de apoio. É por meio de parcerias que nós conseguimos nos organizar para conquistar as certificações, por exemplo.

DPA: Quais elementos você pode destacar como fundamentais para garantir que os cooperados estejam comprometidos com as boas práticas de manejo do açaí?

O que garante que os produtores mantenham o comprometimento com o manejo é a questão da conservação ambiental e da agregação de valor. Eles sabem que um fruto que vem de uma área manejada, que respeita a natureza e seu tempo pode alcançar mercados diferenciados. 

DPA: Do ponto de vista da gestão, como você avalia a maturidade da cooperativa?

O nível de maturidade da cooperativa pode ser considerado alto se olharmos para os dois últimos anos. Estamos com saldo bastante positivo, nesse quesito. A gente conseguiu reorganizar a parte da gestão administrativa, financeira, contábil, jurídica, a parte de processos dentro da cooperativa, dentro das áreas de manejo. Estamos avançando para chegar em um nível de maturidade estruturada.

DPA: Quais principais orientações você daria para cooperativas que pretendem chegar ao nível de organização e conquistas que a Amazonbai possui?

A orientação que a gente passa para outras cooperativas é que elas façam um trabalho de forma organizada, com transparência, com responsabilidade e que mostre o que na sua região tem com alto potencial para comercialização. É preciso entender qual é o carro-chefe do seu empreendimento, se é o açaí, o pescado, se é o camarão, se são outros produtos, então você tem que mostrar que o seu produto é um produto de qualidade, um produto que tem valor, que pode ter agregação de valor no mercado. 

DPA: Quais são os próximos passos da cooperativa? Tendo em vista que já possui uma agroindústria e um produto de qualidade no mercado.

O próximo passo da cooperativa é se consolidar no mercado de exportação e que a gente tenha uma regularidade nos processos, desde a floresta até a comercialização para o consumidor final. Então, o desafio para os próximos anos é que a gente consiga ter estabilidade em todos os processos dentro da Amazonbai. 

 

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