Com o propósito de promover uma discussão qualificada sobre a Cadeia de Valor do Açaí junto a seus membros e participantes, a iniciativa Diálogos Pró-Açaí realizou o Ciclo de Debates: “Riscos e Recomendações na Cadeia de Valor do Açaí”, nos meses de março a junho de 2021, de forma 100% online. Este Ciclo teve como objetivo fazer uma análise aprofundada sobre os diversos desafios e riscos presentes nesta cadeia, além de mapear iniciativas e projetos que atuam para solucionar esses problemas, favorecendo, assim, o desenvolvimento de recomendações para o desenvolvimento sustentável e justo do setor. O evento é também uma forma de sistematizar conteúdos para a elaboração de materiais relacionados à sustentabilidade dessa importante cadeia de valor, que serão lançados em breve.

O Ciclo de Debates foi dividido em três grandes seminários com as temáticas Produção e Manejo; Beneficiamento e Industrialização; e Comercialização e Acesso ao Mercado, e contou com a participação de 130 pessoas.

Confira, a seguir, um breve resumo sobre os diálogos ocorridos em cada um dos seminários:

Seminário I – Produção e Manejo

O primeiro seminário deste Ciclo de Debates, realizado dia 10 de março, teve como enfoque principal a produção e manejo do açaí, e contou com a participação dos palestrantes Anderson Sevilha (Embrapa/Projeto Bem Diverso), Raimundo Brito (presidente da COFRUTA/PA) e Carlos Baratinha Oliveira (Presidente da Cooperativa Sementes do Marajó/PA). 

Em sua fala durante o seminário, Anderson Sevilha discorreu sobre riscos relacionados à expansão da monocultura do açaí; retirada de Área de Preservação Permanente (APP); diversidade de fauna e flora/ polinização e erosão genética; e redução da diversidade de espécies na área de várzea. Trouxe ainda riscos associados em relação à açaização e ampliação das monoculturas versus a adoção de Sistemas Agroflorestais (SAFs); e proposições e experiências positivas: a experiência do Manejaí no manejo de mínimo impacto. Raimundo Brito, por sua vez, discutiu os desafios relacionados à produção, ao manejo e à segurança do trabalho no território em que estão inseridos, região do Baixo Tocantins/PA, município de Abaetetuba. Por fim, Carlos Baratinha comentou sobre a experiência da Cooperativa Sementes do Marajó na produção e manejo do açaí.

Além das falas dos palestrantes, foram apresentados os riscos (e desafios) conhecidos dentro de cada etapa da cadeia de valor do açaí, sistematizados pelos membros da iniciativa Diálogos Pró-Açaí, e discutidas algumas perguntas norteadoras para os participantes, como: Quais os principais desafios que você e sua comunidade enfrentam relacionados à produção e coleta do açaí? Quais experiências exitosas você e sua comunidade têm vivenciado na solução desses riscos? Quais projetos-piloto estão em curso no sentido de mitigar esses riscos? Por fim, foi realizado debate entre os palestrantes e os demais participantes a fim de responder essas e outras perguntas relacionadas a produção e manejo do açaí.

 
Seminário II – Beneficiamento e Industrialização

 O segundo seminário, realizado dia 22 de abril, teve como enfoque principal o beneficiamento e a industrialização do açaí, e contou com as palestras de Leomar Prezotto (Engenheiro Agrônomo e Consultor), sobre as “Normas Sanitárias para a Agroindústria do Açaí”, e de Tiago Souza (UEAP), sobre “Iniciativas para o Aproveitamento de Resíduos do Açaí”.

Em sua fala, Leomar Prezotto se ateve às competências para a legalização das agroindústrias que fazem parte da cadeia do açaí e sobre as principais normas envolvidas nesta cadeia. Tiago Souza, por sua vez, apresentou diversas considerações sobre o volume de resíduos gerados a partir do descarte do caroço do açaí e alguns estudos relacionados ao tema, principalmente no que diz respeito ao aproveitamento do caroço de açaí para outros fins, como, por exemplo, na construção civil, na geração de bioenergia, no tratamento de água e na agricultura. Ao final do seminário foi realizado um debate entre os palestrantes e os demais participantes.


Seminário III – Comercialização e Acesso ao Mercado


Já o terceiro seminário, realizado dia 02 de junho, teve como enfoque principal questões relacionadas à comercialização e acesso ao mercado a partir da perspectiva das comunidades agroextrativistas e do setor empresarial, contando com a participação do consultor empresarial, Sérgio Nunes e do presidente da APRUNAM, Tadeu Costa.

Em sua fala, Sérgio Nunes tratou sobre as dificuldades e oportunidades para a comercialização do açaí no mercado nacional e internacional, com destaque para o crescimento desordenado do mercado em virtude da procura crescente pelo fruto; os desafios para a organização do setor e os entraves para o crescimento sustentável da cadeia. Tadeu Costa, por sua vez, contou sobre a experiência da APRUNAM na comercialização do açaí, especialmente sobre as relações empreendidas entre as comunidades agroextrativistas e as empresas compradoras do fruto. Ao final das apresentações, foi realizado um debate com os participantes e uma síntese dos diálogos ocorridos ao longo de todo o Ciclo de Debates.

Em relação à participação no evento, a analista de desenvolvimento de negócios do FSC® Brasil, Fernanda Vaz, ressalta que “o Ciclo de Debates foi uma importante troca de experiências e enriqueceu a percepção do grupo sobre o futuro do açaí, pois contou com a presença de atores relevantes que atuam de diversas formas no setor: produtores comunitários, cooperativas, pesquisadores, consultores, que compartilharam suas experiências e o que lhes é mais sensível para o desenvolvimento da cadeia produtiva do açaí”.

Maria Luiza Benini, coordenadora de projetos do Instituto Terroá, faz as seguintes observações sobre a temática e a importância dos encontros realizados: Temos uma impressão equivocada de que a cadeia do açaí é 100% sustentável. Na verdade, há diversos desafios que precisam ser trabalhados. Para refletirmos sobre os riscos relacionados à segurança do trabalho, tivemos relatos de cooperativas, que nos contaram quais soluções estão criando para melhorar as condições de trabalho de seus cooperados. Para pensarmos sobre os resíduos caroço do açaí, tivemos a participação da Universidade Estadual do Amapá, que apontou diversas pesquisas que estão sendo desenvolvidas sobre a temática, por exemplo”. 

Próximos passos

Como resultado desses encontros e do plano de trabalho da iniciativa, em breve serão lançados documentos compilando toda essa riqueza de informações, dando ênfase a diretrizes para a produção de um “açaí sustentável”.


Sobre o Diálogos Pró-Açaí

Iniciativa que teve origem no “Projeto Mercados Verdes e Consumo Sustentável”, parceria entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ), que se mantêm em interlocução contínua. Atualmente suas atividades têm sido facilitadas pelo Instituto Terroá. Diversas organizações são parceiras e tem apoiado a iniciativa, como IPAM Amazônia, Plataforma Brasileira de Normas Voluntárias de Sustentabilidade, por meio do INMETRO, WWF-Brasil, Projeto Private Business Action for Biodiversity (PBAB/GIZ), Projeto Cadeias de Valor Sustentáveis (ICMBIO/US Forest Service), Instituto Conexsus, Projeto Bem Diverso (EMBRAPA/ PNUD/GEF), assim como empresas e cooperativas diversas.

Confira o Ciclo de Debates em nosso canal do YouTube: https://www.youtube.com/playlist?list=PL8ytTIo3gjuyzAJ3xqcMRrfN_AAdpepxx

Mais informações sobre os Diálogos Pró-Açaí, acesse: http://blog.institutoterroa.org/dialogosproacai

 

 

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